Foi bem divertido ontem o evento no Garoa. Nós passamos metade do video, que tinha entrevistas com as pessoas que fizeram os primeiros computadores na década de 30.
Mas a parte mais legal não foi o video em si, foi a conversa ao redor do video. Qual o equivalente brasileiros daqueles computadores antigos. Certamente é o Patinho Feio, o primeiro computador desenhado e produzido no Brasil, lá na Poli/USP por volta de 1972. (Ele era do tamanho de um armário, todo feito com lógica TTL, 4kb de memória, 0.5MHz, e naturalmente não tinha monitor, só um monte de blinkenlights).
E no evento ontem não apenas nós tínhamos a documentação original do Patinho Feio em mãos, como também estávamos com um participante do projeto! O Sebastião, da foto, trabalhou com o Patinho Feio na época e escreveu o primeiro compilador para ele.
Eu nem sabia que existiu um compilador, achei que era tudo feito em assembly mesmo. Mas o Sebastião contou a história para a gente. A linguagem usada pelo compilador eles mesmos inventaram. Na época o que bombava era ALGOL, então eles criaram uma linguagem parecida, que foi chamada de (wait for it) PATOL !
O compilador de PATOL era pesado demais para rodar nos 4kb de memória do Patinho Feio, então ele rodava em dois passos. No primeiro passo ele só lia as declarações de variáveis e montava a tabela de símbolos. Depois o segundo passo compilava propriemente dito o programa. Cada passo tinha que ser carregado da fita perfurada, uma parecida com essa da foto (a da foto é um exemplo de "ascii art" da época).
A parte bacana é que talvez esse compilador ainda exista. O Sebastião tem uma caixa cheia de fitas da época, então talvez ainda tenha alguma coisa por lá. O problema vai ser converter as fitas, acho que vou acabar escrevendo alguma coisa usando opencv para ler os furos, aí dá para fazer um leitor rodando no android mesmo.
E vale reparar que papel ainda é a melhor mídia que nós temos. A humanidade tem livros que ainda existem faz milênios, essas fitas do Patinho tem quase 50 anos e ainda são legíveis. Agora tenta ler um disquete um CD-R de dez anos atrás para ver se funciona.
Eu li por aí que o maior legado do Patinho Feio não foi o computador em si, mas a capacitação humana. As pessoas que fizeram o Patinho se tornaram a primeira geração de professores brasileiros com experiência em primeira mão na criação de computadores. Então isso faz de mim parte da segunda geração de patinhos! Eu tive aula com quase todos os criadores originais (introdução à engenharia com o Hélio Guerra, eletrônica digital com o Edson Fregni, compiladores com o João José Neto). Se você lê o meu blog, você é a terceira geração smile emoticon
Quarta que vem tem a parte 2 do video, se quiser participar cola lá no garoa.