Não sei se já falei da minha teoria, mas na minha cabeça o Shogum dos Mortos é o equivalente brasileiro das Tartarugas Ninja. Compara só: ambos são trabalhos feitos por quadrinistas vindos da cena underground, e que mesclam temas do japão feudal com o que tem de mais recente na cultura pop ocidental.
Na década de 80, o que bombava eram os X-Men, então o que saiu foram ninjas mutantes. Hoje em dia o que está bombando são zumbis, então saiu o Shogum dos Mortos. Mas a maior semelhança dos dois é na temática, ambos foram construídos explicitamente na forma de sátiras.
(Se você acha que as Tartarugas Ninja não são sátira, pega o Mirage Comics #1 lá na estante e releia. Elas são claramente sátira do Demolidor, só que UpToEleven. A origem é exatamente a mesma. O mestre decrépito do Demolidor é um velhinho chamado Stick (vareta), o das tarturugas é tão mais decrépito que nem chega a vareta, é só Splinter (farpa). As tartarugas tem lencinhos inúteis amarrados no joelho e no cotovelo, porque é isso que os ninjas da Marvel usam, compare com o uniforme da Elektra e da Psylocke. E os nomes das tartarugas são a jóia do pacote, com tanta referência pulp, elas tinham que ser Kirby, Byrne, Miller e Claremont, mas elas tem nomes de pintores renascentistas só para adicionar mais uma camada de ironia por cima).
Pois bem, Shogum dos Mortos é a mesma coisa, só que ao invés de usar como referências os quadrinhos americanos da década de 80, ele usa os quadrinhos brasileiros da década de 80. O Ovelha Negra, que é pré-Shogum, era sátira da Mad. O Almanacão de Férias do Shogum vinha dos equivalentes da Turma da Mônica. E agora, o mais novo Cripta do Shogum busca inspiração direto na Kripta da RGE, tanto em formato (magazine com papel vagabundo), quando em conteúdo (coletânea de histórias de terror com autores diversos).
Se você já leu os originais, é diversão garantida. Por isso o aviso honesto na capa, PARA ADULTOS. Não é necessariamente por causa do sangue e violência do interior, é que se você não for adulto, não vai entender as referências que só quem lia gibi nos anos 80 vai perceber. Por exemplo, no meio das histórias tem a propaganda do Instituto Universal Shogum dos Mortos, que é hilário se você lembra do IUB que vinha no meio de quase todo gibi da época. E as propagandas falsas sempre tem alguma história escondida, como o estagiário fazendo trabalho forçado nas catacumbas da gráfica, ou o quadrinista malvadão que vende sua alma para o capitalismo e termina a vida fazendo caricaturas de casamento (me identifiquei com esse).
Agora só falta esperar o desenho animado com a versão fofinha do Shogum. Ou então chiclete, eu aposto no chiclete.