quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Novamente a brincadeira do artista, dessa vez o Marco Lazzeri me passou o Roy Lichtenstein! Se você quiser um artista para brincar, deixe em comentário escrito MANDA.

Para falar do Roy eu vou ter que rebobinar até a época dos gregos, porque eu não consigo falar de arte moderna sem o contexto em volta. Se você pegar a arte dos gregos, vai ver que eles tem aquelas estátuas super realistas, mas as pinturas são bem simples em comparação. Isso não é preconceito com a pintura, é falta de tecnologia, eles não tinham tintas que permitissem fazer pinturas tão realistas quanto as estátuas.

Essas tintas só foram ser inventadas lá pelos idos de 1300, e nessa época começam a aparecer as pinturas com sombreamento realista. Na época da Renascença Italiana os caras piraram na estética de realismo, que começaram a ter uma fixação mórbida em fazer reproduções perfeitas (literalmente mórbida, para que pegar um livro de anatomia, se você pode dissecar um cadáver e ver in loco como os músculos se encaixam?). A busca por realismo foi aumentando em escala com o tempo, se você pegar aquele quadro das meninas que tem no MASP, o Renoir não contente em apenas fazer a pintura realista, fez até o relevo no vestido das gurias.

Mas a farra do realismo acabou lá por volta de 1850, quando inventaram a fotografia. Para que se esforçar com a técnica perfeita, se você pode tirar uma foto que é muito mais fácil e dá um resultado muito melhor? Quando a fotografia aparece, os artistas surtam e aí que aparecem o impressionismo, cubismo, surrealismo. Não faz mais sentido buscar o realismo, então você abraça o irreal.

É nesse contexto que eu localizo o povo da pop art como o Warhol e o Lichtenstein. Eles possuem a técnica, mas não tem interesse em retratar o mundo real. Ao invés disso, eles vão uma camada acima, fazendo retratos de segunda ordem, reproduções realistas de reproduções que não são realistas. Ao invés de pintar uma fruta, você pinta o rótulo de uma latinha de fruta em conserva. Ao invés de pintar uma mulher, você pinta a caricatura de uma mulher em uma revista.

O Lichtenstein, além de subverter a técnica, subverteu a temática também. Os gregos esculpiam a mitologia do Olimpo. Os italianos pintavam a mitologia Cristã. O Lichtenstein pinta a mitologia moderna: os gibis. Cada um dos quadros dele é uma reprodução de uma história em quadrinho, que tem hoje em dia a mesma função dos mitos para os antigos. E os quadros dele não são impressos saídos de gráficas, são telas enormes pintadas a óleo e acrílico. Os tons que no original eram pontinhos feitos com decalques, nos quadros dele são pontões pintados a mão.

Para ilustrar, eu escolhi o quadro "Image Duplicator", que eu entendo como sendo um auto-retrato. Se fosse o Leonardo, ele usaria um espelho para fazer uma cópia fiel de si mesmo. O Roy não está interessado em leituras literais, então retrata como ele se sente. Os artistas clássicos sempre diziam que pop art era uma piada e não era arte de verdade. Então o Roy se sente como um vilão, e para isso ele copia um quadro do Kirby no X-Men #1, se desenhando como o Magneto. E o texto pergunta aos críticos: "o que vocês sabem sobre meu duplicador de imagens?". Para os críticos, o trabalho dele é só uma cópia. Mas a pergunta é irônica: se você prestar atenção, nenhum dos quadros dele é uma somente uma imagem duplicada. Ele sempre muda algo: nessa imagem, o original não tinha as sobrancelhas loiras, e nem o texto do quadrinho era esse.



Nenhum comentário:

Postar um comentário